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O que o dinheiro não compra

Em uma palestra que dei para terapeutas, soltei uma frase para provocar os ouvintes dizendo: “dinheiro não é vital”. Claro que gerou alvoroço porque “como assim não é vital? e a comida? e a casa?”. Na minha visão, transformamos o dinheiro em algo que nossa vida depende porque achamos que o dinheiro pode e deve comprar tudo, inclusive nossa sobrevivência.

Mas não é esse olhar de dinheiro vital que quero trazer hoje. Minha provocação agora vai ter um caminho diferente. Das coisas que o dinheiro não compra, uma delas é a transformação, crescimento e amadurecimento pessoal.

Tenho clientes que me pagam muito bem por sessão e me dizem: “Quero ser atendida por você. Dinheiro não é problema.”

Mas que, no final do mês, se perguntam se eu estou transformando elas o suficiente e se questionam: “Estou pagando caro e nada está acontecendo.”

Dentro de um consultório terapêutico, quando uma das partes (seja cliente, seja terapeuta, sejam os dois!) entende que o dinheiro que essa pessoa está pagando pela consulta deveria garantir sua transformação pessoal, a relação terapêutica não acontece.

O que nunca fica claro para terapeutas e pacientes, nesse espaço mercantilizado (em que tudo é mercado e mercadoria), é que não é a quantia de dinheiro paga por sessão que vai realmente transformar um cliente.

Tenho amigos terapeutas que tem medo de cobrar um valor justo pelo seu trabalho porque não acham que vão entregar a transformação que a pessoa deseja. Eles não entendem que terapia, no contexto profissional, é como qualquer outro trabalho que ele poderia estar fazendo, que tem um custo envolvido e que precisa ser cobrado de forma adequada.

No fim, ele não sabe o que o cliente está pagando e não deixa isso claro para quem o contrata.

O que um cliente paga quando contrata um profissional de saúde mental é o tempo e o conhecimento desse terapeuta para FACILITAR e ACELERAR seu próprio processo, decidido e nutrido pelo próprio cliente. O terapeuta tem liberdade de dizer para quem o procura o preço que cobra pelo seu investimento para estar ali de forma segura e inteira (seus custos de vida, seu prazer e lazer pessoal, seus estudos e seu desenvolvimento profissional contínuo), mas esse preço NUNCA será entregue na transformação pessoal do cliente, pois esta é responsabilidade pessoal e intransferível do cliente.

Eu sou muito a favor de fazer um contrato de responsabilidade antes do início do processo terapêutico. Um papel em que fica claro para ambas as partes o que é responsabilidade e direito de cada um.

Se esse texto reverberou em você, compartilhe com seus clientes e colegas de profissão.

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4 comentários em “O que o dinheiro não compra”

  • Kátia Franza diz:

    Ótimo texto, palavras importantes a serem ditas! Concordo contigo, e sigo na minha construção, re-construção e transformação! Grata pelo suporte profissional sempre!

  • Thais diz:

    Amei!!! Exatamente isso, enquanto nos mantivermos só no externo, não tem cura. Nem os melhores cursos, os melhores profissionais. As respostas estão dentro. O olhar para dentro com apoio profissional sim é o caminho, e ainda assim, o tempo de jornada é incalculável, pq é algo para a vida toda. Eu brinco com meus clientes, que se alguém deseja pílula mágica, eu não sou a profissional adequada. ❤️ Amei o texto Sa. Muito esclarecedor é necessário.

  • Perfeito Sara!
    Gosto muito da forma como você conduz seu conteúdo, traz assuntos importantes de forma lúcida e honesta.
    O medo de se tornar responsável pelo seu próprio processo e não ter a quem recorrer para culpar pelos resultados indesejáveis a não ser a si mesmo é o que reproduz em larga escala essa insegurança nos terapeutas de todas as linhas e nos profissionais do desenvolvimento humano, pois que deixar claro esse movimento de autoresponsabilidade que o cliente deve ter com seu processo afasta muitos interessados em “resolver a vida”.
    A saúde mental é uma área tão pouco compreendida pela maioria da sociedade que os papéis não são tão claros e as relações comerciais que a envolvem carecem de uma linguagem mais objetiva e clara, com fins práticos e seu texto tocou exatamente neste ponto.
    Mas o que me deixou querendo mais foi justamente a compreensão de como definir a entrega que o cliente recebe como fruto da prática terapêutica?
    Estabelecer um contrato resguarda ambas as partes, mas como definir o objeto do contrato e seus desdobramentos em uma linguagem clara e acessível que fortaleça essa relação para além do comercial, mas do subjetivo e completamente pessoal, intrínseco da personalidade e ritmo de cada um?
    Sobre isso, não encontrei quem falasse ainda. Teria como dar um exemplo ilustrativo e elucidativo?

    • Jéssica, sua dúvida sobre o objeto e resultado final do processo terapêutico é muito válida! A psique tem seu próprio tempo de amadurecimento. Não há como prever o tempo linear em que cada coisa irá acontecer. Dentro do contrato que estabeleço com um cliente, eu ajusto minha linguagem para duas partes:
      1. O que ela vem buscar em terapia. Isso significa que todo mundo tem um objetivo para se chegar… “quero me relacionar melhor com meu trabalho”; “eu tenho uma relação muito truncada com minha família” e etc. Eu estabeleço isso de forma clara, afirmando que se é isso que essa pessoa vem buscar, eu vou buscar ter o compromisso de voltar nesse assunto, mesmo que a criança interior dela quiser falar sobre “o rabo da lagartixa” (ou seja, o que não tem relação direta ou indireta com o objetivo dela). Eu, Sara, acredito que autoconhecimento é um processo eterno, terapia não. E o mais “mágico” dessa minha decisão é que, nos processos que conduzo, a gente decide é hora de uma pausa. Eu entendo que meu papel como psicoterapeuta é dar suporte para a transformação e também apontar como essa pessoa sustenta isso no restante da semana que ela não está comigo.
      2. O que você vai ver, sentir, pensar e agir quando isso estiver encaminhado. Eu provoco alguém a visualizar o que vai acontecer, e inclusive corrijo rotas caso eu veja que o desejo da pessoa é irreal. Eu digo de forma realista “isso não vai acontecer…”. Tem gente que me chama de bruta, e eu acolho. Tem gente que me diz que eu trouxe clareza para a vida da pessoa, e eu também acolho. Se alguém me diz “eu tenho questões com minha família, e quando eu resolver isso, minha relação com eles será fluida e fácil”. Eu dou aquele choque de realidade “não é possível você transformar sua família em algo que é desejo/idealização/ilusão seu para que você não sofra mais, só é possível nesse processo encontrarmos um caminho para você transformar essa relação a partir do seu posicionamento pessoal diante deles, nem que seja o de abrir mão de uma idealização que só te sufoca.” (se tiver cliente minha lendo isso, vai confirmar que é assim que falo. kkkkkkkkk)
      Isso, eu falo diretamente na sessão. Não ponho em contrato, nunca tive questões sobre minha entrega. Mas fica sempre muito claro o limite entre o que eu entrego e o que a pessoa deseja.
      Espero ter tirado sua dúvida. Isso dá um post bem grande e detalhado. 🙂
      Um beijo.

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