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Como viver são em uma sociedade dirigida pelo medo

O Brasil parece estar vivendo numa panela de pressão há algum tempo. Tenho a impressão, provavelmente pelo excesso de informações que chegam até mim, que estamos cada vez mais ansiosos e sem esperança de viver um futuro bom. Recebemos estímulos que nos deixam em estado de alerta, nos impelindo a reagir a tudo o que existe. Vivemos encurralados, com medo de não sobreviver, de perdermos tudo o que temos a qualquer momento. Sentimos isso todos os dias, praticamente sem tréguas. Como lidar com uma carga de estresse que vai ficando insuportável?

Você deve abrir jornais, redes sociais e até os grupos de mensagens de família e amigos e se deparar, todo dia, com uma cena comum: mensagens sobre desastres, mortes, corrupção, doenças, etc. Independente do conteúdo da mensagem ou de quem as diz, o que é falado implicitamente é que o seu futuro está ameaçado. Não importa qual seja o seu “lado”, o outro ameaça sua existência. Você pode até achar que essa mensagem vem apenas nas notícias que você lê, afinal quanta desgraça por aí, certo?! O que pouca gente percebe é que toda forma de comunicação em massa tem falado uma mesma linguagem: a do medo.

O cérebro é programado para detectar ameaças e nos manter vivos. Ele “enxerga” o mundo como uma grande selva e não diferencia um leão (predador real) de uma conta para pagar ou de uma grande oportunidade que não podemos deixar passar (predador imaginário). Ao se encontrar com esse predador, seu cérebro se prepara para defender a continuidade da vida desligando a área responsável pelo pensamento racional e lógico e ativando três reações básicas de sobrevivência: luta, fuga ou congelamento. Se o perigo é iminente e você sente que tem ferramentas para sair com vida, o corpo luta/foge. Se o perigo é grande demais e a vida está ameaçada, o corpo congela suas reações e você fica imóvel.

Se você está diante de um perigo, seu cérebro envia uma mensagem para corpo agir conforme seus recursos disponíveis e, por qualquer motivo, você não age, o corpo mantém toda a adrenalina e cortisol liberados como forma de autoproteção. “O leão pode estar a espreita, preciso ficar alerta”. No curto prazo, o conjunto cérebro-corpo conseguem lidar com isso. Porém, quando a carga de perigo é intensa demais devido a uma situação extremamente traumática vivida, ou os estímulos são pequenos, constantes e sem válvula de escape por um tempo considerável (que varia muito entre pessoas), o cérebro e o corpo respondem de acordo: insônia, desânimo, crises de ansiedade, medo do futuro, depressão, pânico, etc. É como se houvesse uma conversa na qual o cérebro diz “corpo, fique alerta!” e o corpo respondesse “eu estou e vou continuar! mas estou tão cansado…”

Mesmo que queiramos, não é possível ignorar o que acontece ao nosso redor. O cérebro reage aos estímulos apesar de nossa vontade consciente de não se deixar abater por nada. O que fazer então? Aqui minhas dicas:

  1. Tenha uma rede de apoio. É muito importante que você tenha um grupo de pessoas que possa te acolher quando você se sentir esgotado. Um abraço, ser ouvido com afeto sem julgamentos ou ser apoiado podem mudar seu estado emocional de uma hora para outra, te ajudando a encontrar novas soluções para suas questões e problemas. Quando encontramos pessoas que nos fazem sentir seguros no mundo, o corpo relaxa, saindo do estado de alerta, ajudando a encontrar recursos internos para lidar com a vida em si e seus desafios;
  2. Quando estiver ansioso, separe o que é racional e faz sentido do que não tem base na realidade. Você acorda de manhã e lembra que esqueceu uma tarefa no seu trabalho. O que você faz? Lista as opções possíveis para resolver o problema, ou já começa a achar que será demitido, que nem precisa ir mais trabalhar, de tão incompetente que se sente por não ter conseguido lembrar de fazer uma tarefa? A primeira opção é um exemplo de uma ansiedade que tem uma razão aparente, pautada na realidade e que tem opções de solução. Já a segunda vem de uma ansiedade irracional, que faz exatamente isso: pega um fato corriqueiro e exagera sua proporção. Para evitar este caminho, converse com as pessoas sobre seus medos. Conversar sobre eles dará uma noção de realidade maior que manter o assunto somente na sua imaginação, onde ela pode ganhar uma proporção que não condiz com a realidade vivida. Checar os fatos, escrever ou falar sobre o assunto são formas de trazer suas inquietações para um plano concreto.
  3. Tenha ciência do que você realmente controla. Independente da situação, há sempre um nível de decisão que você pode controlar e se responsabilizar por. O mar está cheio de plástico por causa de todos os dejetos que humanos jogam lá e você fica ansioso e com medo do que pode acontecer no futuro. Qual seu nível de responsabilidade ali? O que você pode fazer para contribuir para a redução de plásticos no mar? Se você encontrar uma solução que está dentro das suas responsabilidades e você pode controlar de maneira saudável, faça. Isso também se aplica a questões num nível mais pessoal. Sua contas do mês chegam e, com elas, aquela angústia de achar que não dará conta de tudo. O que está em seu controle nessa situação? Quem sabe reconhecer que contas precisam ser pagas, que há vida depois das contas ou até mesmo começar a fazer um planejamento financeiro? Há sempre uma decisão saudável em suas mãos e que pode ser tomada já.
  4. Diminua sua exposição a conteúdos sensíveis, principalmente se você não estiver se sentindo bem. Alguns conteúdos consumidos podem trazer angústia, fazendo com que seu cérebro entenda que aquela notícia está acontecendo com você diretamente. Nos conectamos socialmente através da emoção e empatia, então quando alguns conteúdos sensíveis chegam ao nosso cérebro através dos cinco sentidos, eles podem ativar memórias antigas e até mesmo uma ideia de que aquilo está acontecendo com você. Uma forma de reduzir essa sensação é entendendo seus limites. Está estressado e cansado por causa de tanta coisa que já precisa lidar na vida pessoal todos os dias, e liga a TV no final do dia para ver jornais sobre violência? Evite. Reconheça que naquele dia você está no seu limite e que notícias podem ficar para amanhã.
  5. Busque de forma proativa por conteúdos construtivos. Tudo o que você põe seu foco, é aí que está sua emoção, mente e corpo. Lembre que olhar também o que existe de bom no mundo, principalmente para relembrar seu cérebro e corpo de relaxar com um pouco de ocitocina (amor), dopamina (prazer) e serotonina (bom humor). Uma dieta emocional equilibrada contém também doses de afeto e esperança.
  6. Crie momentos para desestressar. É fato comprovado que exercícios e meditação trazem benefícios no longo prazo, mesmo quando estamos em período de descanso. Caminhe, mexa o corpo; perceba sua respiração de forma consciente; medite e traga sua mente para o momento presente. Tudo isso ajuda a reduzir estados de ansiedade e medo de uma forma rápida e natural.
  7. Faça terapia. Quando um conteúdo ressoa em suas emoções e encontra desconfortos seus latentes, é quando você mais se sente tocado por esse conteúdo. É possível que seu estado esteja sendo agravado por questões em aberto de sua história de vida. Fazer terapia pode ser uma forma de você se conhecer melhor, entender seus limites e viver emocionalmente saudável.

É possível que você olhe a lista acima e se sinta ansioso de ter que executar tudo isso para conseguir viver de forma mais relaxada e centrada. Calma! Comece pequeno… o que é possível ser feito hoje, agora? Faça e comece a perceber os resultados.

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